sábado, 25 de outubro de 2008

Ribeirão Preto desperdiça 100 estádios do Botafogo por ano de água

Ribeirão Preto retira do Aqüífero Guarani, todo ano, 57,6 bilhões de litros de água. Desses, 64,6% são desperdiçados, se considerado o consumo recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Com o volume que se joga fora daria para encher 100 estádios do Botafogo até na boca de água, segundo reportagem do jornal "A Cidade".

A OMS considera suficiente o uso diário de 100 litros por pessoa. Em Ribeirão Preto, o consumo seria de 250 litros na maior parte do ano, de outubro a julho, estima o Daerp, o departamento de água da Prefeitura. Nos meses de agosto e setembro, com escassez de chuva, esse número subiria para 450 litros, diz Adalton Santini, diretor técnico do órgão.

O cálculo foi feito com base nessa estimativa de consumo do Daerp, multiplicando-se o consumo per capita pela população da cidade, de 558.136 habitantes (na estimativa do IBGE para junho deste ano).

A diferença entre o apontado pela OMS e pelo Daerp encheria essa centena de estádios. O volume desperdiçado com o mau uso e com os vazamentos no sistema também poderia encher 7,45 milhões de caixas de água de 5 mil litros. Ou, ainda, 37,2 mil piscinas olímpicas.

Mesmo se o consumo em Ribeirão fosse igual ao da média na América Latina, de 200 litros por dia, segundo a OMS, o volume perdido ainda seria significativo. Mas o desperdício pode ser bem maior.

Segundo o coordenador da pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental da USP, Marcelo Souza, a estimativa do Daerp é conservadora.
- Chega-se a 400 litros diários, em média, subindo para 600 litros, no verão - diz o engenheiro, que já atuou na medição de bombas, em Ribeirão.

A combinação de calor, queimadas da palha de cana e estiagem é um dos principais fatores do grande volume extraído do aqüífero, afirma o geógrafo Maurício Moreira Santos, facilitador do Aqüífero Guarani na Organização dos Estados Americanos.

- A primeira coisa que as pessoas fazem é 'varrer' as cinzas da cana do quintal com a água da mangueira - diz Santos. Outro fator, segundo Souza, da USP, é o calor que predomina na maior parte do ano na cidade.
Souza afirma, porém, que a gestão da extração e distribuição de água na cidade é o que mais pesa no desperdício de água potável.
- Perde-se 50% do que se retira de água do aqüífero na própria rede. O Daerp é o maior responsável pelo desperdício - diz o especialista.

O problema, diz, é que a rede de distribuição, que inclui mais de cem poços, é antiga e não está integrada.

- Isso otimizaria os resultados - afirma o estudioso.


O próprio Daerp admite que não tem controle sobre a quantidade de água extraída dos poços nem a que chega aos imóveis do município. Não há medidores em todas as bombas que retiram a água do aqüífero. E quase um quinto dos hidrômetros em imóveis da cidade precisam ser trocados por serem defeituosos ou estarem quebrados, segundo Adalton Santini, diretor técnico do Daerp.

Mesmo sem esse controle, Santini afirma que houve grande incremento no fornecimento de água. Segundo ele, novos poços furados pela atual gestão produzem água extra para abastecer 330 mil habitantes.
Somente quando a prefeitura acabar de trocar os hidrômetros dos imóveis de Ribeirão será possível determinar quanto se consome de água efetivamente, afirma Adalton Santini, do Daerp.

Há 260 mil residências no município. Dessas, a autarquia já trocou 65 mil peças, desde 2006, com recursos do Fesh (Fundo Específico de Substituição dos Hidrômetros), que cobra R$ 0,93 em cada conta.
Segundo Santini, o hidrômetro novo aponta o gasto correto de água. Ele diz que, em sua casa, a troca do equipamento fez a conta de água subir de R$ 12 para R$ 300 ao mês.
- Corri atrás dos vazamentos que havia na residência para baixar o valor", diz ele.
A conta baixou ainda mais, diz, quando a família monitorou os gastos diários da residência. "Hoje pago R$ 70".


2 mil anos

A água do Aqüífero Guarani depositada na zona Leste de Ribeirão tem até 2.000 anos de idade, mostra um estudo concluído recentemente. Isso quer dizer parte da água que Ribeirão bebe choveu sobre a área de recarga na época de Jesus.

- Essa é a idade na área de afloramento, que é mais superficial. Mais para o interior do aqüífero, onde a água é mais profunda, a idade sobe - diz o geógrafo Maurício Moreira Santos, facilitador da OEA (Organização dos Estados Americanos) para o Guarani.

Nas áreas de afloramento, a água encontrada tem de semanas a centenas de anos, diz ele. Além de Ribeirão, Altinópolis também apresenta afloramentos em nascentes.
No subterrâneo de Sertãozinho, a água demorou 10 mil anos para ser filtrada. Em São José do Rio Preto, o tempo chega a 20 mil anos.

A avaliação da idade da água mostra a importância da preservação do aqüífero, afirma o geógrafo.
- Mesmo que entrar uma quantidade muito grande de água na área de recarga, hoje, ela não será imediatamente aproveitada, porque terá de percorrer todo esse caminho até ser, lentamente, filtrada.

Ainda não se sabe o tamanho todo e o volume de água do aqüífero, mas estudos já apontaram que a extração de água é mais rápida que a capacidade de regeneração do manancial, comenta Santos.
Na região central de Ribeirão, o nível do aqüífero já baixou de 60 a 70 metros, desde o nível original, medido na década de 1940.

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fonte: O Globo / EPTV

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