segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

BRASIL As expectativas vão ditar o tom

Num momento de grande incerteza, a percepção do futuro é um indicador fundamental para saber o que esperar da economia brasileira em 2009
Num artigo recente, o economista Robert Shiller, professor da Universidade Yale que ficou célebre ao descrever a "exuberância irracional" da bolsa de valores americana nos anos 90, levantou mais um desafio para o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama. Para Shiller, além de colocar em prática medidas de estímulo à economia, Obama teria de lançar um plano para criar empregos para todos. "Se o novo presidente tivesse o pleno emprego como meta, e se os americanos acreditassem que isso poderia ser atingido, o problema de falta de confiança (da população no futuro da economia) poderia ser rapidamente resolvido."
As declarações de Shiller tocam num dos temas mais debatidos da teoria econômica e que ganhou relevância ainda maior em razão da crise global: a importância que as expectativas têm para determinar o desempenho de uma economia. "A percepção do que pode ocorrer no futuro é um componente vital do capitalismo", diz o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos. "Sem isso, empresas, indivíduos e governos não conseguem se planejar." O tema foi abordado de forma profunda pela primeira vez pelo economista britânico John Maynard Keynes, nas primeiras décadas do século 20.
Mais recentemente, alguns prêmios Nobel foram concedidos a economistas e psicólogos que voltaram a discutir o tema - um deles é o americano Robert Lucas, professor da Universidade de Chicago. Num momento de grande indefinição como o atual, as expectativas são um importante farol que indica o que pode ocorrer na economia mundial nos próximos meses. "As previsões se formam em cima de números reais do mercado e também por meio da troca de informações", diz Marco Aurélio Cabral, professor do Ibmec Rio de Janeiro. "Quando as empresas dizem que vão demitir, elas contribuem para formar expectativas." Da mesma maneira, o desempenho das bolsas de valores, das vendas de Natal e até dos gastos do Estado é um indicador poderoso do que investidores, empresários e governo esperam do futuro.
Nos Estados Unidos, para onde quer que se olhe, o clima é de pessimismo, e o cenário, de pesada retração econômica. Isso é verdade quando se observa a forte baixa da bolsa de Nova York - o Índice Dow Jones caiu mais de 30% em 2008 até meados de dezembro - e quando se constata a melancolia de vendedores em lojas e cafés localizados próximos a Wall Street, o coração financeiro americano. No Brasil, entretanto, as expectativas em relação a 2009 fazem o país viver um aparente paradoxo. De um lado, os números gerais sobre a economia pintam um quadro de euforia. O produto interno bruto cresceu 6,8% no terceiro trimestre de 2008, frente ao mesmo intervalo do ano anterior.
É um recorde para o período desde 1996, quando o IBGE iniciou a nova metodologia de cálculo do PIB. O país também está menos vulnerável a choques externos - o saldo de reservas internacionais soma cerca de 200 bilhões de dólares e está entre os maiores do mundo. As empresas, porém, passaram os últimos meses se preparando para o pior. As montadoras deram férias coletivas a milhares de funcionários e algumas das maiores companhias do país, como a Vale, já reduziram a produção e anunciaram demissões. Só em novembro, a indústria paulista fechou 34 000 postos de trabalho, segundo a Fiesp. "As companhias estão se antecipando à provável piora da situação do país, e fazer cortes é uma decisão perfeitamente racional.
A crise está aí, há motivos para se preocupar", diz Edmar Bacha, consultor sênior do banco Itaú BBA. Embora existam incertezas sobre como a crise global vai influenciar a economia brasileira de fato, restam poucas dúvidas de que haverá menos crescimento econômico. A previsão média de consultorias especializadas e analistas de bancos e corretoras indica que o PIB crescerá ao redor de 2,5% em 2009. Pode parecer exagero demitir e reduzir a produção para se preparar para um ano em que a expansão deverá ficar próxima da média histórica dos últimos dez anos. O problema, novamente, tem a ver com expectativas.
"As empresas vinham investindo, construindo fábricas e contratando pessoal com base numa perspectiva de crescimento acelerado, superior a 5%. O panorama mudou radicalmente em pouco tempo, e agora elas têm de se adaptar", diz Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Consultoria e ex-diretor do Banco Central. "A inércia de 2008 fará o PIB crescer 1% em 2009. Portanto, quando se fala em crescimento de 2%, na verdade isso significa adicionar apenas 1 ponto percentual a esse resultado, o que é bastante ruim."
Parte da freada da economia deverá ser causada pela queda das exportações. Tudo indica que o menor crescimento mundial e a diminuição dos preços das commodities irão reduzir a quantidade e o valor dos produtos brasileiros vendidos no exterior. Além disso, a expansão mais conservadora do crédito, que foi um dos principais motores do consumo e dos investimentos das empresas nos últimos três anos, também deverá contribuir para segurar a economia em 2009. De acordo com um relatório especial do banco Votorantim, o volume de empréstimos e financiamentos, que chegou a aumentar cerca de 30% recentemente, deve apresentar uma expansão de apenas "um dígito" em 2009. "A redução dos financiamentos afetará os mercados de produtos de maior valor, como os automóveis", diz o relatório. Onde o crédito já rareou, as conseqüências foram visíveis e danosas. As vendas de veículos baixaram 26% em novembro frente ao mês anterior, o que levou o governo a anunciar um pacote de ajuda ao setor, com o corte de impostos. Se não é suficiente para reverter a queda de vendas, o pacote é mais um sinal de que 2009 promete ser um ano bem mais complicado do que foi 2008.
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fonte: Exame

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